quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Antes tarde do que nunca...

Comecei o alongamento dos atores estimulado pelos pássaros e pelo "voar fora das asas", que o manoelzinho fala. Asas, tronco, rabo, pisada e por últmo a cabeça. Depois de todos os pássaros formados e ampliados, exauridos de tanto bater asas, pedi para que fossem diminuindo, até aquilo tudo se transformar num gesto. Todos caminharam em direção a camera fazendo esse gesto descoberto no encerrar dos vôos. Alex, que estava na camera, lembrou da imagem dos corpos com contrações abdominais da condução do Odilon, sentiu a mesma sensação. Incrível que todos os movimentos resultaram em gestos tristes, inibidos, e com pouca vida. E logo o pássaro que é símbolo da liberdade. ONDE ESTÁ SUA LIBERDADE? Perguntei aos atores, no fim. Elegi as cores azul, roxo e cinza para o trabalho. Todos foram se "vestir dessas cores" para iniciar o procedimento principal. Vestir é uma palavra já deslimitada entre nós do Bololô. O vestir passou a ser uma espécie de composição de outra figura, outro ser, um corpo-coisa. "Entulho serve para poema", diria manuelzinho, turbante de calça, sapato de saco, mãos de bolas de encher..., foram coisas vistas.  

Esse é um relato da nossa atividade no dia 20 de Agosto, dias antes da chegada do Zé Walter. Tivemos uma reunião para levantarmos os acontecimentos importantes nos laboratórios, para a chegada do nosso lunático da dramaturgia. Portando esse material, elegi uma cena interessante dentro do processo de cada um dos atores, quatro cenas. Relacionei cada cena a um dos poemas do "Retrato do artista quando coisa", quatro poemas. Utilizei o inventário de ações físicas e o de animais, construídos no período em que o Luna Odilon esteve conosco, e coletei tudo referente a cada poema selecionado para servir de estímulo para criação de movimentos:

 - Esse movimento precisa ter sentido pra você, se isso vai comunicar algo pra alguém é uma preocupação secundária. Os canais de entendimento são outros. Não esqueçam nenhuma parte do seu corpo, da unha do pé a pontinha da voz.

Esse foi o dia da cena de Arlindo, GERMINAÇÃO DE INÉRCIA. O poema referente foi o nono do Retrato, esse aqui.

"Havia no Lugar um escorrer azul de água
sobre as pedras do córrego
(Um escorrimento lírico.)
Andava por lá um homem que fora desde
criança comprometido para lata.
Andava entre rãs e borboletas.
Me impressionou a preferência das andorinhas
por ele.
Era um sujeito esmolambado à feição de ser
apenas uma coisa 
Era um sujeito esmolambado à feição de ser
apenas um trapo.
Percebi que o homem sofria por dentro de uma
enorme germinação de inércia.
Uma inércia que até contaminava o seu andar
e os seus trajos."

- MANOEL DE BARROS


Ações físicas utilizadas: Escorrer, Andar, impressionar-se, perceber, sofrer

Depois de criados um movimento para cada palavra, pedi que cada um juntasse os seus movimentos na ordem e na quantidade de vezes que quisesse, fazendo uma pequena "coreografia", cena.

Estímulos individuais: Paulinha - Criança e germinação de inércia
Luana - Borboletas e Andorinhas, com a indicação que ela teria que usar som na partitura 
Arlindo - Germinação de inércia e contaminar

Cada um adicionou seus dois estímulos a sua coreografia em forma de mais dois movimentos.

Fim do procedimento principal.

Durante a apresentação dos resultados utilizei o nosso IMAGINÁRIO, para preencher os movimentos com referências visuais. SUPER FUNCIONOU. Imaginário é o nosso dicionário de imagens para expressões, frases e palavras Manoelescas, fizemos ele no período que o Odilon "Esteves" aqui.

Experimentamos várias qualidades de movimento, suave, pesado, lento, rápido, entre outros, criamos outras experiências para essas coreografias. Fim do dia de trabalho, foi um dia suave.

Beijos do Silbat :)

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