Esse post
era pra ter saído ontem, mas hoje sai, e sai sorrindo!
Hoje vamos falar de procura, entre outras mil coisas subjacentes.
Começaremos citando Arlindo Bezerra: “Me sinto um artista procurando, preciso
me posicionar, expurgar, romper barreiras, transbordar... E agora quero apenas
a incompletude... ‘Nesse ponto sou abastado...’” - como diria Manoel de Barros.
É claro que este processo é procura, é busca, é revirar baú velho,
remexer as entranhas, olhar pra baixo. Este post se dedicará a um dia de
trabalho que começou explicitando a procura e terminou no gozo de criar, um dia de trabalho
maravilhosamente pensado e conduzido pelo nosso assistente de direção Alex
Cordeiro.
Paulinha conta: “Iniciamos o trabalho com dois momentos de
contemplação. O primeiro, feito individualmente em um horário qualquer do dia,
um momento só para contemplar – momento pedido por Alex, que devíamos trazer
como memória e material para o trabalho a ser desenvolvido no ensaio.
O segundo momento de contemplação foi coletivo. Alex nos convidou
a sentar em um banquinho na lateral do Barracão dos Clowns (onde carinhosamente
ensaiamos) para olharmos o céu. Simplesmente contemplarmos o azul escuro e
luminoso daquela noite de vento bom. Contemplamos o céu, conversamos com as
estrelas e até discutimos sobre suas cores, sobre a rotação da terra e rimos
gostoso. Dentro de pouco tempo. Tempo suficiente.”
Depois de aquecidos pela contemplação, recebemos uma carta que nos
convidava a um jogo. Um jogo de procura. Tínhamos de catar pequenezas do chão. Levamos
pro Barracão um sem número de desobjetos. Sem número não só porque eram muitos,
mas também e principalmente porque eram infinitos de possibilidades.
Dentro do Barracão, nos foi pedido que ressignificássemos os
desobjetos. Fiz tanta coisa que nem sei. Fui tanta coisa que me encontrei me
perdendo. Fiz tanta coisa virar outra que a ordem do mundo inteiro se tornou de
cabeça pra baixo, e eu podia mexer nela tal como criança mexe nas coisas: com
total domínio sobre elas, com imaginação.
Nesse império do cisco, o que pra alguns é só um pedaço de pau
vira bengala num piscar de olhos, e mais: tem poder até de envelhecer o corpo.
Depois a bengala vira remo, e de repente o corpo é jovem de novo, pronto pra
desbravar uns mares ou uns rios escuros, depende da vontade de quem configura
as coisas com a imaginação onipotente. Ser onipotente é coisa de Deus. “Experimento
o gozo de criar. Experimento o gozo de Deus.” – diria Manoel de Barros.
Depois desse momento individual de ressignificar os desobjetos, nos
foi pedido que construíssemos em conjunto uma cena. O lúdico estava muito
perto, então optamos por dormir e acordar criança. Aaaah, brincamos. Brincamos
tanto que é até difícil descrever. Tinha que tá lá, brincando com a gente, pra
saber. Brincadeira é vivência, não é narração, não senhor. O que posso contar é
que brincamos de gato mia, de esconde esconde, de monstro. Morri de medo do
monstro! De verdade. Teve uma hora que o monstro me pegou e me matou, mas
depois ressuscitei. Depois o monstro me pegou e acabei virando monstro
também... Bom, acontece né.
Às vezes a gente é flor, às vezes a gente é monstro. Procurando,
tudo se pode encontrar. Encontrando, tudo se pode gozar.
Lua
Lua
Esse dia de trabalho foi incrível!
ResponderExcluirMeter as mãos nos restos encontrados nas ruas, nas calçadas, nos canteiros, sem pudor, sem nojo, sem medo de pegar em cocô de cavalo ou adquirir um germezinho no pé. :)
E menino lá tem medo de ficar doente?! Lá tem nojo de se sujar de rua e chuva?!
Menino gosta assim. Quanto mais meleca e surpresa, MELHOR!!!
Texto lindo Lua!! Estive com vocês por suas palavras. De repente cheguei aqui! E fiquei e vivi. Beijo no BololÔ inteiro!! De longe mas na viagem!
ResponderExcluirBrigada, Ti! Você já está sempre com a gente, pode acreditar! Beijo no coração!
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